Rebanhão foi uma banda brasileira de rock cristão que teve cerca de vinte anos de atividade. Seu fundador é o cantor e compositor capixaba Janires Magalhães Manso que acabara de se converter ao cristianismo e junto com amigos em São Paulo criavam um novo grupo de rock que unia letras poéticas com temática cristã. Logo o músico partiu para o Rio de Janeiro, onde finalmente montou o "Rebanhão" que seria notável no Brasil e que passaria por quatro fases distintas.[1]
A partir do disco Mais Doce que o Mel, lançado em 1981, a banda se tornou a primeira no país em notoriedade nacional do gênero. Apesar de seus membros serem criticados pela sonoriedade e as letras, as canções do Rebanhão atraíam os jovens cristãos, e fez a banda alcançar uma alta vendagem do primeiro trabalho. O Rebanhão ainda foi responsável, em sua primeira formação em gravar o primeiro disco evangélico ao vivo no Brasil, Janires e Amigos, em 1984.
A saída do fundador e do líder do grupo em 1985 fez com que o Rebanhão entrasse na sua segunda e mais bem sucedida fase em vendas. O guitarrista e cantor Carlinhos Félix passou a atuar como líder e principal vocalista, lançando vários trabalhos. Após o lançamento de Pé na Estrada em 1991, Félix decidiu seguir uma carreira solo e então o tecladista e único integrante da formação original, Pedro Braconnot assumiu a liderança e os vocais do Rebanhão. Em sua participação, a banda lançou o bem sucedido e elogiado Enquanto é dia, de 1994.
Entretanto, com a mudança frequente de integrantes, sonoridade e com a pouca popularidade da banda no final da décade de 90, o Rebanhão lançou seu último trabalho, Vamos Viver o Amor e em 2000 encerrou suas atividades. Porém, a banda é frequentemente apontada como uma das responsáveis pela modernização da música cristã e servindo de influência para vários músicos da música cristã contemporânea.
História
Início e primeiras composições (1975-1979)
O início da história do Rebanhão confunde-se com a trajetória musical e religiosa de Janires Magalhães Manso. Após ser preso em flagrante, parar numa casa de recuperação e tornar-se evangélico após frequentar os cultos na Igreja Cristo Salva, conhecida também como "igreja do Tio Cássio", o músico tinha a vontade de criar uma banda de rock cristão. Ainda, nessa época o cantor já possuía suas primeiras composições. Foi gravado um compacto em 1979, mas Janires decidiu mudar-se para a cidade do Rio de Janeiro, finalizando tal projeto ali.Primeiros trabalhos e notoriedade nacional (1979-1985)
Após mudar para o Rio de Janeiro, Janires ainda queria prosseguir o projeto do Rebanhão. Assim o prosseguiu, conhecendo Pedro Braconnot, um viciado em drogas e ainda não cristão. Pedro abraçou o projeto de Janires e assim tornou como um seguidor seu. Num dia, os dois assistiram um ensaio de vários músicos cristãos e os convidaram para integrarem à banda. Eram: Paulo Marotta, Kandell Rocha e André Marien. Por fim, entrou o cantor e guitarrista Carlinhos Félix. Ali surgia oficialmente a primeira formação do grupo Rebanhão.[3][2][4]A banda começou suas atividades executando suas canções em vários locais da cidade, como nas praças e praias, em alguns momentos junto à Paulo César Graça e Paz. Pela sua sonoridade e letras, o grupo não foi bem recepcionado por grande parte dos religiosos da época. Porém, o grupo prosseguiu.[5]
Nós queríamos entrar na igreja com bateria e guitarra com som distorcido. No início houve um certo preconceito, depois eles aceitaram. |
— Carlinhos Félix comentando àFolha de São Paulo sobre o início do Rebanhão.[5]
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Dois anos depois, em 1983 o grupo preparava para lançar seu segundo trabalho. Com a saída do baterista Kandell, Tutuca entrou em seu lugar. O estilo da obra seguiu a mesma linha do anterior. Assim foi lançado Luz do Mundo.[10] Algumas das canções de tal disco chegaram a serem executadas em rádios não-cristãs do Rio de Janeiro.[8]
Janires comemorava em 1984 dez anos de conversão ao protestantismo. E em razão disso o Rebanhão realizou a gravação do primeiro álbum de música cristã do Brasil ao vivo, o trabalhoJanires e Amigos, gravado no auditório da Rádio Boas Novas em 14 de dezembro daquele ano. Durante o evento, a banda cantou as canções "Baião" e "Casinha", presentes no disco Mais Doce que o Mel além de inéditas que eram homenagens à vários amigos de Janires.
Pós-Janires e PolyGram (1985-1988)
Após a gravação de Janires e Amigos, a banda sofreu a primeira saída de grande impacto em sua estrutura. O fundador e vocalista Janires anunciava sua saída do grupo, que segundo ele era uma direção de Deus. O músico se mudara para Belo Horizonte, onde fundaria mais tarde a Banda Azul. Apesar de sua saída, o cantor continuou a ter contato com os integrantes do Rebanhão, dando conselhos e ajuda.[2]Com a popularidade do Rebanhão, o conjunto foi contratado pela gravadora PolyGram, onde gravou o disco Semeador. Carlinhos Félix assumiu a posição de líder do grupo e Pedro Braconnot passou a atuar como o segundo vocalista da banda. Mais tarde, o grupo gravou Novo dia em 1987. O evento de lançamento da obra foi realizado no Canecão lotado, e era a primeira vez em que uma banda cristã fazia um evento no local.[11]
Princípio e início dos anos 90 (1989-1995)
Em 1989, a banda fechava um contrato com a Gospel Records e lançava o disco Princípio, o primeiro da música cristã brasileira a ser lançado em formato CD. Aclamado pelo público, o show de lançamento da obra foi realizado no Rio Sampa. Com uma maturidade musical completa, na obra o Rebanhão assumiu uma sonoridade guiada pelo pop rock se destacando pelas canções "Palácios" e "Selo do Perdão". Esta última e "Ele Te Ouve" receberam versões em vídeo.Em 1991, o grupo lançava Pé na Estrada, sendo o primeiro da banda sem Tutuca, tendo o músico Serginho Batera atuando nas gravações. Após seu lançamento, Carlinhos Félix decidiu seguir uma carreira a solo e deixou o grupo, além de Paulo Marotta em 1992, que mudara para Belo Horizonte, onde passou a trabalhar na engenheiraria civil.
Tendo apenas Pedro Braconnot da formação inicial, o Rebanhão com novos integrantes lançava o último trabalho pela Gospel Records, Enquanto É Dia. O disco contou com uma homenagem à Janires, que havia falecido anos antes em um acidente automobilístico, além de faixascongregacionais, até então uma vertente que o grupo não explorava.
Últimos trabalhos e declínio (1995-2000)
Com a mesma formação anterior, a banda lançou Por Cima dos Montes em 1996 pela gravadoraWarner Bros. Records. Apesar de ser lançado por um grande selo, o trabalho não foi tão bem sucedido como o anterior, não tendo nenhuma canção de grande relevância.[11]Em 1998, a Gospel Records lançava uma coletânea da banda, onde o repertório era composto por canções dos três trabalhos, intitulado O Melhor do Rebanhão.[11]
Apesar da baixa popularidade, o Rebanhão continuava e gravava de forma independente mais um disco, intitulado Vamos Viver o Amor, lançado em 1999 distribuído pela Dunamy's. Na obra, a sonoridade do Rebanhão era bastante distinta dos discos anteriores, adotando totalmente o congregacional, também conhecido como louvor e adoração como gênero musical do grupo. O trabalho, assim como o anterior passou desapercebido pelo público, tendo notoriedade alguma. O grupo então realizou o show de lançamento da obra e encerrou suas atividades.
Depois disto, o grupo continuou a receber convites para voltar à atividade, porém nada foi decidido a partir de então.
Estilos musicais
Diferente da maioria das músicas cristãs do inicio dos anos 70 e 80, as canções do Rebanhão eram modernas e revolucionárias com letras bem elaboradas e que transmitiam a mensagem de Cristode uma maneira diferente até então. O repertório do grupo era composto de ritmos como o rock and roll, country, jazz, além da musicalidade brasileira: samba, baião, etc. Nos primeiros álbuns, a maior parte das composições eram de Janires. O engenheiro Paulo Marotta, ex- integrante da banda, descreve de maneira bem clara a proposta da música de Janires Magalhães Manso:- "Ironizava os políticos corruptos, os comerciais da TV, parodiava filmes e novelas, falava das realidades, de sonhos, fracassos e frustrações, do pecado e da miséria resultante, para apresentar, em fulgurante contraste, a estonteante luz, a estupenda graça e a infinita paz de Jesus Cristo".
Músicos convidados
Em sua existência, o Rebanhão contou com vários músicos convidados para apresentações e gravações. Destacam-se: Lucas Ribeiro, Zé Canuto, Toney Fontes, Hélio Delmiro, Silas, Ermínio, Barney, Marcos Góes, Natan, Bonés e Edinho.Discografia
- Álbuns de estúdio
- 1981: Mais Doce que o Mel
- 1983: Luz do Mundo
- 1985: Semeador
- 1987: Novo dia
- 1989: Princípio
- 1991: Pé na Estrada
- 1994: Enquanto É Dia
- 1996: Por Cima dos Montes
- 1999: Vamos Viver o Amor
- Álbuns ao vivo
- 1984: Janires e Amigos
- Coletâneas
- 1994: Grandes Momentos
- 1998: O Melhor do Rebanhão
Ver também
Referências
- ↑ Souza, Zilmar Rodrigues de. A musica evangelica e a industria fonografica no Brasil : anos 70 e 80: (Dissertação, Mestrado em Artes). Campinas, SP: Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Artes, 2002. p. 58.
- ↑ a b c d Um cidadão da Jerusalém Celestial. Valter Júnior. Arquivado do original em 24 de agosto de 2012. Página visitada em 24 de agosto de 2012.
- ↑ Rebanhão. Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Página visitada em 18 de agosto de 2012.
- ↑ Do Nascimento Cunha, Magali. A Explosão Gospel: um olhar das ciências humanas sobre o cenário evangélico. Rio de Janeiro: Mauad, 2007. ISBN 978-85-7478-228-7. Página visitada em 27 de agosto de 2012.
- ↑ a b Mariano, Ricardo. Neopentecostais: Sociologia do novo pentecostalismo no Brasil (em português). [S.l.]: Edições Loyola, 1999. ISBN 978-85-1501-910-6. Página visitada em 18 de agosto de 2012.
- ↑ Márcia Leitão Pinheiro (2006). Na 'pista' da fé: música, festa e outros encontros culturais entre os evangélicos do Rio de Janeiro. Domínio Público. Página visitada em 27 de agosto de 2012.
- ↑ Marialva Bomilcar, Nelson. O melhor da espiritualidade brasileira. [S.l.]: Mundo Cristão, 2005. ISBN 978-85-7325-394-8. Página visitada em 27 de agosto de 2012.
- ↑ a b José Roberto Zan (2002). A música evangélica e a indústria fonográfica no Brasil: anos 70 e 80. Unicamp. Página visitada em 14 de agosto de 2012.
- ↑ Como nasceu a música gospel. Gospel Sete. Arquivado do original em 18 de agosto de 2012. Página visitada em 18 de agosto de 2012.
- ↑ Luz do Mundo. Arquivo Gospel. Página visitada em 30 de agosto de 2012.
- ↑ a b c d e f g h História. Rebanhão. Página visitada em 20 de setembro de 2012.
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